Sunday, May 24, 2009

O bom filho...

Recebo comentários vez por outra aqui no blog, mesmo sem atualizar há alguns meses. Recebo também alguns emails com pedidos de Respostas, pedidos de que o blog volte a ser atualizado. Mesmo semiabandonado (como é a regra da reforma mesmo?), o blog recebe várias visitas semanais.
Gostaria de agradecer o carinho e também de me justificar, se for possível.

Dizem que poesia é melhor e mais bem-feita com uma pitada de tristeza (que, ainda bem, não tenho sentido). Mas sei que isso não é motivo para que eu não prossiga produzindo de maneira experimental. Estou tentando juntar uma certa quantidade de conteúdo, pois tem certas semanas em que não é possível ter tempo para nada.

Mais um pouco e eu volto a postar aqui, certo?

Obrigada mais uma vez.

Sunday, October 26, 2008

Dificuldades à parte...

"Tente. Erre.
Tente de novo.
Erre melhor!"

Da peça Esperando Godot.

Ótima semana!

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NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


Carlos Drummond de Andrade


R.:
Bem à minha frente
tinha um homem.
Tinha um homem
bem à minha frente.

Parou, como quem não sabe mais
- aonde ir, por que ir, como ir -
parou e seus olhos marejaram
contemplou-me, viu em mim o mundo,
viu em mim a tragédia,
viu em mim sua vida.

Na dureza da minha singela existência
o Homem parou, e ali ficou
renegando, amaldiçoando
- sentindo bem fundo -
a suposta delicadeza de tudo.

Bem à minha frente tinha um homem
Tinha um homem bem à minha frente.

No meu ser, nada mudou.
Naquele homem, a vida empedrou.

Thursday, October 16, 2008

É a falta de tempo

Vocês sabem... Falta (além de tempo) perceber que eu é que sou dona do relógio.

Leminski, mais uma vez, sobre essa dificuldade.
E bem curto.
Por causa do tempo.

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Não fosse isso
e era menos
Não fosse tanto
e era quase


Paulo Leminski


R.:
A vida se desespera
inteira
pelos pequenos
detalhes

Sunday, October 5, 2008

Bom-dia...

...pra mim!
Hoje eu dormi 18 horas seguidas... Algo me diz que eu andava cansada...!
;)

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CANÇÃO PARA ÁLBUM DE MOÇA

Bom dia: eu dizia à moça
que de longe me sorria.
Bom dia: mas da distância
ela nem me respondia.
Em vão a fala dos olhos
e dos braços repetia
bom-dia a moça que estava
de noite como de dia
bem longe de meu poder
e de meu pobre bom-dia.

Bom dia sempre: se acaso
a resposta vier fria ou tarde vier,
contudo esperarei o bom-dia.
E sobre casas compactas
sobre o vale e a serrania
irei repetindo manso
a qualquer hora: bom dia.
Nem a moça põe reparo
não sente, não desconfia
o que há de carinho preso
no cerne deste bom-dia.

Bom dia: repito à tarde
à meia-noite: bom dia.
E de madrugada vou
pintando a cor de meu dia
que a moça possa encontrá-lo
azul e rosa: bom dia.

Bom dia: apenas um eco na mata
(mas quem diria)
decifra minha mensagem,
deseja bom o meu dia.
A moça, sorrindo ao longe
não sente, nessa alegria,
o que há de rude também
no clarão deste bom-dia.
De triste, túrbido, inquieto,
noite que se denuncia
e vai errante, sem fogos,
na mais louca nostalgia.
Ah, se um dia respondesses
Ao meu bom-dia: bom dia!
Como a noite se mudara
no mais cristalino dia!


Carlos Drummond de Andrade


R.:
Bom-dia: ele me diz
sempre que passo,
que venho ou que vou
Bom-dia: nada respondo
e sei que o que faço.
Sei bem o que sou...
Repete o bom-dia,
o boa-noite, boa-tarde
Já não fosse mais tarde
Já não fosse mais cedo
Esse meu coração cheio
(de medo)
Esse tão sempre alarde
Esse tão nunca sossego...

Bom-dia: o moço me diz
Não olho, finjo que não vi
Me faço de boba
assim como o é
Esse moço e seus bom-dias
olham para cada mulher
e elogiam o dia
com esse tanto alvoroço
que eu já sei para o que é.
Guardo no coração um bom-dia
daquele que foi embora
sem ter marcado hora
um dia...

Não me venha com bom-dias,
seu moço.
Bem sei o mal que fez
ter respondido uma única vez
A um desses cumprimentos educados
Antes fosse indiferente
(mas ele, de lado, me sorria...)
Por isso, nessa não caio.
Guarde seu bom-dia
embrulhado pra presente.
Prefiro um olhar de soslaio
a uma tristeza iminente...

Sunday, September 28, 2008

Por quê?

Porque o tempo passa, e durante o almoço surge a ideia.
O outro blog ainda tá de recesso, calou-se. Sem ao menos ter tido direito de resposta.
Por isso que o Resposta veio. É justo que todos possam dar seu lado da história, sua versão dos acontecimentos.
A proposta do Resposta não é rimar, por mais incrível que isso pareça; é dar voz àqueles (aqueles eu-líricos, aqueles motivos, desejos etc) que quiseram, mas talvez não puderam responder.

Sintam-se à vontade para pedir respostas, dar respostas, até para rimar, se quiserem.

Por hoje, Leminski; um dos meus preferidos.

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RAZÃO DE SER

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski


R.:
Porquê, é, não tem que ter.
Mas a gente bem sabe
(eu e você)
que orgulho ferido
amor, paixão e saudade
coração partido (em duas metades)
é mais do que motivo
pra traduzir estas tardes...

(que lentamente
vagam, passam e morrem
enquanto as letras escorrem
sem, finalmente, ter porquê.)